quinta-feira, agosto 31, 2006

Querido diário

Querido diário,
Como, dizem, um diário pode ser importante para o desenvolvimento intelectual de todo infante, começo agora, meio atrasado, de fato.
Hoje, querido diário, tive um ótimo dia. Com uma bela aula às 7:30 da manha e uma outra um pouco mais protocolar, diria. Logo depois, já no horário do almoço, segui à pça de serviços. Pensando..:
'Vou até à Faculdade de Biologia e pego o papel que mamãe pediu que eu pegasse a quatro dias e em todos esses havia esquecido. Dai eu vou no café da praça e tomo dois ou três expressos até o bandeijao esvaziar. Dai eu pego o 5102 e vou à face, pra minha aula da tarde.
...
Se bem que se eu pegar o onibus lá perto do bandeijao, é possivel, dado o horario, que eu nao consiga um acento no onibus. Então é melhor eu voltar e pegar perdo da fafich... Aliás, eu posso almoçar no bandeijao do centro, que é mais vazio. Entao é isso!'
e dei meia volta antes mesmo de chegar à pça, fui à fafich, conversei com uma amiga, passei no computador, olhei e-mail e peguei o 5102.
Quando perto do centro, lembrei: 'pqp, o documento q ia pegar no ICB'
Cheguei à face e, enquanto esperava a aula começar, lembrei: 'pqp, esqueci q não tenho aula hoje'
Aproveitei que ainda estava cedo e fui ao campus de novo, pegar o documento. Cheguei, peguei o documento, resolvi umas coisas e peguei, novamente, o 5102.
Como tinha 10 reais e o trocador não tinha troco, fiquei de pegar o troco mais tarde.
Foi quando peguei meu 2° onibus e, quando ia passar na roleta, lembrei: 'PQP, o troco'.
Desci do onibus, sem dinheiro, passei no maleta, tirei dinheiro e, dado o adiantado da hora e o transito caótico: 'porque não uma cerveja?!'
Terminei minha tarde na guajajaras tomando uma cerveja e fumando dois cigarros, um de cada vez...
E ainda tenho esperança de recuperar o troco do onibus...

quarta-feira, agosto 30, 2006

Uma - quase - pequena pausa nas lamentações...

Comentaram-me comigo hoje.
"Fizeram justamente o que eu tinha pensado em fazer!"
Essa é uma frase muito ouvida na academia. Num daqueles momentos em que sentimos nossa criatividade e aquela nossa idéia "original" ser reduzida a uma cópia, ou uma repetição.
Um dia, num desses porres que sempre tomo e que me fazem pensar, cheguei à conclusão que é justamente a repetição que faz as coisas evoluirem. Não uma repetição, na verdade, mas um 'baseamento', diria.
Isso porque as inovações não inovam muita coisa, paradoxalmente. Só apontam. O real desenvolvimento é dado como o (des)envolvimento da 'real vanguarda'. Muitas vezes fechadas no próprio ego, quem sabe..!?
Mesmo essa concepção, a da vanguarda, me parece realmente exagerada. Mas, de qualquer maneira, hoje concebo o avanço como, de fato, um processo de citar, reler, discutir, fazer colagens e escrever algo ligeiramente diferente.
E é por isso que tudo demora tanto. Um tanto-tanto.

terça-feira, agosto 29, 2006

Preguiça

Tá bom, eu confesso. O fato é que me abrigo neste blog e fico de fato fingindo que sei escrever. E entre um post e outro, lições de prolixidez e raros bons textos, acabo por realizar uma catarse. Essa palavra é legal, mas nao é tanto uma palavra corrente para mim. Embora uma palavra comum, lembrei de sua existência entre um blog e outro visitado. Hoje vislumbrei dois bons blogs e os coloquei ao lado. O fato é que visitei mais de 2 bons, mas deveria acrescentar com um pouco de cautela. Nem seria essa a palavra, o que tenho mesmo é preguiça.
Conversando com uma caloura hoje, disse que estava com preguiça e triste. foi quando ela me questionou: "Você está com preguiça da tristeza ou tristeza dá preguiça?" um 'tristeza da preguiça' também seria um belo trocadilho. mas o primeiro é melhor.
Não soube responder. e dai que ela começou a falar palavras - e ações - que seriam causadas pela tristeza. Preguiça, apatia, desinteresse, cepticismo, indiferença. Foi uma bela "lição" dada por uma caloura, uma daquelas de rosto límpido, olhar iluminado pela universidade e no auge de seus, sei lá, quem sabe 18 anos... E depois os veteranos é quem são burros.
De qualquer maneira, voltando ao blog, diria que o meu prazer mesmo é visitar blog, e de fato fico feliz quando uma ou outra garota dessas que escrevem por ai acabam por me mandar recados. Ainda mais quando fazem um elogio suspeito sobre um texto ou outro meu.
Digo "garotas" e "suspeitos" porque todas elas escrevem, seguramente, muito melhor do que eu. O que acabo por achar natural. É impressionante como as mulheres escrevem melhor do que os homens. Generalização grosseira, mas não é por mais absoluta coincidência que a maioria ao lado são mulheres. Essas meninas são boas! Cada vez me convenço mais que isso de sensibilidade e letras é coisa realmente de mulherzinha, mulheres médias e mulherzonas.
Nem sei porque insisto nisso. Deveria realmente voltar ao Muay Thai e acompanhar o campeonato brasileiro. Mas tenho uma preguiça...

sábado, agosto 26, 2006

Será?

Estou hoje com uma daquelas camisetas de anos. Quem sabe uns 6 ou 8... Uma camiseta que já chegou àquele jeito que só é possível sair perto de casa para um lugar bem, bem próximo. Uma padaria, quem sabe...
Mas não estou com ela por ser justamente confortável. Embora o seja, estou vestido porque ela tem uma frase:
vazio
... para se encher e tornar a ser vazio para sentir.
Já foram muitas as vezes que me perguntaram o significado da frase e, respondendo, nunca conseguia, de fato, responder.
Pensei agora em uma outra frase:
A plenitude de uma coisa que nos enche só plenamente sentida quando nao nos enche mais. A necessária distância.
Não que não seja sentida a massa no momento, no durante. Mas as mudanças que processamos, ou que nos processam... só é sentida quando de outra mudança iniciada. Como se a vida fosse dividida em um ciclo e outro. Aqui tenho uma dúvida. Será?

terça-feira, agosto 22, 2006

Gira Amante

Impressiona-me ser uma rosa, ou várias, a flor dos amantes. Isso porque uma rosa me parece tão insossa. E se uma é insossa, várias são indiferenciáveis. A princípio ia chamar aquela "uma rosa" de indiferenciável, mas somente um plural pode sê-lo...
Voltando, as rosas são indeferenciáveis. Radicalmente diferentes, portanto, de qualquer sentimento de amor. Sempre diferentes, os amores nunca se permitem incondicionais ou iguais. Um amor nunca é igual. Já vi uma frase uma vez que dizia que os amores nunca acabam, mas mudam de lugar. Pode ser, mudam de amor à paixão, de amor ao carinho, de amor ao rancor, sei lá. Intensidades equivalentes de sentimentos diferentes. Dai até pode ser, mas que o amor à uma pessoa não se transmuta ao amor de outra, disso estou certo.
Voltando às flores, uma "conhecida" minha, e dai faço o uso de aspas de forma realmente preciosa, possibilitou que eu conhecesse a flor, ou uma das flores, do amor.
Como efeito de retórica diria que a flor do amor não pode ser outra senão o girassol. Mas na verdade nada no mundo é tão absoluto, isso de coisa não poder ser outra. Mas, de qualquer maneira: 'A flor do amor não pode ser outra senão o girassol'.
Isso porque o girassol só tem olhos para um referencial, o sol.
Dado ao fato de que o amor é sempre um referencial de desejo, de carinho, de espelho, de admiração; e dado o fato de que um amor nunca pode ser igual a outro; e dado mais um fato elementar, um sol nunca pode ser igual a outro; a flor do amor, a flor do referencial, da admiração ao sol que todos procuramos é, de fato, a flor que gira procurando um objeto de adoração.
É como se o girassol fosse um olho de caleidoscópio, procurando alguma coisa para brilhar.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Desejo

Hoje quero ser a mulher do relacionamento.
Quero um olhar apaixonado. Quero flores. Quero presentes. Não somente aqueles que se compra, mas os que se faz. Aqueles presentes que duram dias para serem feitos.
Quero olhares apaixonados, repito. Quero bombons. Quero sorvete! Quero que me esperem na saida da aula com um sorriso de quem ganha um presente. Não quero ser querido pelo sexo. Não quero ser querido para exibição. Quero um querer. O Querer. Querer de um sábado inteiro dentro de um quarto. Também vale um domingo, um feriado. Quero conversas longas, despretenciosas. Quero um envolver, um escutar músicas e comentá-las. Quero uma carta apaixonada. Também vale aqueles emails. Ou mensagens no celular. Quero um Lembrei De Você, uma surpresa, um galanteio. Um sorriso sincero. Quero ser conquistado. Não pelo sexo, bom mas trivial, mas pelas virtudes. Sim, quereria ser amado pelas mais absolutas virtudes. O desejo de me sentir sublime.
Quero o prazer de me sentir único, mais um único entre dois. Dois únicos, um para o outro.
Quero ser acordado com beijos e café na cama. Quero uma noite com velas, bom vinho e um jantar feito a dois. De modo bem cúmplice. Quero um silencio de depois, um Eu Te Amo, uma não muita afobação. Também quero um não sexo, uma volta da noite de namoro e um sono com os anjos. E quero um Relacionamento.
E...
...um desejo de ser uma bela flor.

domingo, agosto 13, 2006

A girl with kaleidoscope eyes

Deve ter alguma coisa muito errada na minha formação. Como eu posso, somente muito recentemente, ter descoberto, na mais profunda acepção da palavra, algumas coisas???

Não que eu não houvesse ouvido as músicas do 'Lucy In The Sky', mas até pouco tempo, 1 mês, talvez, ou algumas semanas, não tinha escutado o álbum todo, da primeira faixa à ultima. E reparem a diferença entre ouvir e escutar, vejo a última ação muito mais profunda...

E é então que encontro um álbum absolutamente perfeito. Do qual retiro, hoje, duas músicas: 'Lucy In The Sky With Diamonds', que dá-me uma frase fantástica, "Somebody calls you, you answer quite slowly A girl with kaleidoscope eyes". E percebo, não direi tanto pelos outros, mas que boa parte dos homens, pelo menos, busca nada mais que uma garota com olhos de caleidoscópio. Um desses olhares que brilham, que falam, que quase emitem luz própria.

A outra é 'She's Leaving Home', donde uma mulher mostra a vontade de liberdade. E que toda vontade de liberdade, de desprender-se, por modo ou outro, dói.
Passou-me uma retificação pela cabeça. Não obstante algumas pessoas realmente terem olhos de caleidoscópio, eles nao são essenciais, dado que podem surgir e desaparecer, ou melhor. Iluminam e apagam.
Ia colocar Iluminam-se e apagam-se. Mas o que provoca um olhar de caleidoscópio é sempre outra coisa. É sempre, mesmo que por uma capacidade de "Perceber" de quem os possui, provocado por algo para eles belo. Os olhos se acendem pelo mais profundo agradecimento pela visão, pelo Belo que é visto.

sábado, agosto 12, 2006

Jornalismo I

Já que generalizar é facil, pensei em uma bela generalização:
Todo Cientista Político se acha Jornalista.


É claro que minha análise parte da academia, onde me encontro, e de estudantes, mesmo que quase profissionais formados. Acho que isso teria a ver com o seguinte, os pretendentes a Cientistas Políticos acham que poderiam ser ótimos jornalistas. Dai o embaraço sentido, dentro da academia, entre os "cientistas sociais" e os comunicólogos, onde aqueles vivem por apontar os defeitos destes.
E não necessariamente o inverso, já que são os estudantes de comunicação que bebem das ciências sociais, e nao o contrário. E isso é uma pena...
Nós, pretenços cientistas sociais, que nos debruçamos sobre 4 metodologias, 4 sociologias, 4 antropologias e 4 políticas durante a vida academica, e dai digo somente as matérias obrigatórias, sempre cheios de teoria sobre como é, qual é e como deveria ser, nos contorcemos diante das generalizações jornalisticas. E achamos que faríamos muito melhor!!!
E ainda a sombra da Escola de Frankfurt, com seus conceitos de cultura de massa, industria cultural e aquele monte de coisas que nos "permite" colocar o dedo na ferida dos comunicólogos e acusa-los de se renderem ao Espetacular. É claro que não digo 'sombra" no sentido de jogar ao lixo, simplesmente, a contribuição dos frankfurtianos (nem sei se esse nome existe, ou é escrito assim)... Acho que tem contribuições legais. Mas dai a nos fecharmos nas ciências sociais e falar da manipulação da imprensa sobre a massa, isso já me parece demais...
Lembraria, é claro, umas coisas. A primeira é a invejavel, na minha opiniao, capacidade de mobilização dos Comunicólogos. Na minha turma faz tempo que nao temos uma festa. E isso não indica pouca coisa!!!
Outra coisa é uma citação de Marx, sobre a liberdade de imprensa.... Na verdade eu nao consegui achar o texto, mas Marx faz uma análise, na gazeta Renana, sobre o modo como é a imprensa que permite sair da filosofia e ir ao mundo real, saindo do idealismo dos jovens hegelianos. Mas, enfim, depois coloco o trecho certinho.
A questão é que, embora com menos teoria sobre ciências políticas, e essa é mais uma bela generalização, são os comunicólogos que conseguem se mobilizar e sair da onde nós, pretenços ciêntistas políticos, nos fechamos. Sair dos livros.

sábado, agosto 05, 2006

Fortuna, variável como a lua

Canções de beuer - Carmina Burana
oh fortuna Ó Fortuna
velut luna tal a Lua,
statu variabilis, uma forma variável!
semper crescis Sempre enchendo
aut decrescis; Ou encolhendo:
Estes são os primeiros versos da peça Carmina Burana. Muito conhecida, ela foi uma coletânea de vários textos dispersos e editados e modificados e musicados por Carl Orff. Tema de diversos filmes, os textos de monges goliardos medievais tratam da Fortuna, deusa romana da sorte, sendo ela boa ou má.
De fato eu prefiro a tradução "Ò fortuna, variável como a lua", invertendo a segunda com a terceira frase e dando uma sonoridade melhor, mas fica esta acima, inclusa a referencia, assim como outras coisas dessa postagem, no site em questão.
A fortuna, variável como a lua, é mulher. Deusa mulher de uma época em que os céus não estavam tão onipotentemente masculinizados. Afinal de contas, acho que umas Marias não são mulheres o bastante. Não desmerecendo-as, mas se o Deus todo poderoso fosse casado e tivesse lá algumas mulheres em seu redor, acreditaria lá em mais alguma sensibilidade divina. Okay, posta está a hierarquia divina atual, mas digamos que A Fortuna é de uma época em que a burocracia transcendental era mais refinada...
A fortuna, diria também, aquela que roda um timão onde os homens estao postos e são levados acima e abaixo(ver inicio do texto do 2° link) na grande roda, tem algumas características preciosas, diria:
"Ela possui, assim, duas faces: uma, sedutora e atraente, caprichosa e flutuante, quando mente com sua aparência de felicidade; outra, comedida e sincera, pois mostra os verdadeiros amigos, distinguindo a franqueza da hipocrisia. Assim, a Fortuna comporta uma parte de bem e uma parte de mal. Uma engana, a outra instrui. Pois a amizade é o tesouro mais sagrado que existe, pois os amigos são dados pela virtude e não pela Fortuna. [destacados dos autores, Costa; Zierer]"
Esse, para mim, foi o trecho mas belo do artigo do link. Colocaria todo ele em negrito, mas, enfim...
Ele está ai para que eu possa falar que a fortuna só poderia ser representada por uma mulher. Somente uma mulher poderia ser sedutora e atraente, caprichosa e flutuante, ao mesmo tempo que comedida e sincera. E instruir tanto, como quem rí suavemente durante o girar da roda da vida.
Somente uma mulher poderia colocar poderia colocar, de fato, tudo em movimento!

terça-feira, agosto 01, 2006

Palmito-parade

Recebi um e-mail sobre a cowparade. Ou melhor, sobre o questionamento da mesma. A origem do texto, daquele centro de mídia independente que realmente tem ações louváveis, mostra-me como as autoproclamadas vanguardas políticas podem ser autoritárias.
Não questiono, é claro, o aspécto de maus tratatos com animais. As grandes e pequenas industrias têm disso, mas falar de uma "não arte" pelo sentido de ser financiada pelas grandes organizações me parece tão leviano... Como se os maiores movimentos artísticos da história da humanidade não tivessem, sempre, sendo financiado por uma elite, por um grupo por cima da carne seca. Ou alguem acha que seria possível O Renascimento sem o financiamento de uma classe muito endinherada e que, por vezes, nao tinha o interesse da arte pela arte, mas interessavam-se por publicidade, ou sei lá...
O modo como esses pseudo-revolucionários impõe uma necessidade de arte politizada me lembra a imposição em determinada fase da revolução russa, e nao só nela, de que a arte fosse associada a uma bandeira política. Não que eu não acredite que isso de arte política nao sja legal, mas o fundamental é que seja por necessidade do artista, da arte, da vontade - e, digamos, de uma vontade do público. E não sobre um Imperativo Categórico de que você não deve se associar às grandes empresas para produzir arte, ou qualquer outra coisa...
Digo isso porque sou pela liberdade, e adoro uma carne. E, completo, odeio leite! E porque cargas d'agua deveria ter um ódio de quaquer uma das empresas de produção de alfaces. Tá bom, é outra coisa, os alfaces nao passam por condições gravíssimas por grandes empresas (até onde sei), mas caso eu soubesse de uma grande empresa de produção de palmitos, e eu odiasse palmitos por serem somente uma pequena parte de uma grande arvore, ainda assim não desdenharia qualquer iniciativa artistica, e publicitária, dos empresarios do palmito.
Ai me vem meia dúzia de autoritários reclamar de exposições públicas, abertas, acessíveis e transmutando "questionamento" em vandalismo. Tenha a santa paciência...
A princípio, ví um ótimo vídeo que passei para outros e-mails. Acho uma boa bandeira, ou iniciativa, mas sem exageros, por favor...
ps.1: A tempo pelo que disse da revolução russa: gosto de Lenin, já o li um pouco inclusive; adoro Marx; amo arte, mesmo as despolitizadas e elitistas. arte é arte. E o melhor já produzido foi graças a muita, muita segregação e desigualdade. Tão claro como o leite!
Ps.2: Torço aqui pela melhora de Fidel, sem ironias...!

terça-feira, julho 25, 2006

O Poetinha

É, gente, sou um dos que não gosta de postagens com letras de música, poemas ou coisa que os valha. Mas li isso do poetinha, O Vinicius. traio então meu ideal de tentar escrever e ponho cá um texto que nao saberia ter escrito...

abraço...

Separação

Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...
in
Para viver um grande amor (crônicas e poemas)in Poesia completa e prosa: "Para viver um grande amor"

domingo, julho 23, 2006

"Ensaio Sobre a Lucidez"

Sobre lucidez V - Ato final
Isso já tem alguns dias. Chorei pela primeira vez lendo um livro. Nem sei na verdade se poderia ser definido como choro, algumas poucas lágrimas. Dentre os vários livros de José Saramago lidos por mim da primeira à última pagina, e diria que não foram poucos: 7, foi este do título o que mais me emocionou.
E este foi um belo livro. Fala sobre lucidez e sobre a maneira como nada no mundo, digo Nada, passa sem conseqüências. E a conseqüência da lucidez também veio... Mas isso guardaria, de modo geral, para aqueles que tenham o interesse de ler. Não contarei o final da história.
Se bem que, num mesmo livro do Saramago, tem-se uma frase que é mais ou menos assim: “(...) perdoem-me os leitores se contei o final da história. Mas isso pouco importa, na verdade. Todos nós sabemos como acabará a vida, com a morte, e nem por isso deixamos de viver” Claro que ele foi mais poético do que eu, é o que o Nobel credencia. Mas a idéia da frase é esta, com mais ou menos palavras.
E diria, José, que a vida é relacionar-se. E os relacionamentos acabam... e sempre nos mudam. Como a vida é uma só e nada podemos levar dela, o que nos resta é levar o que aprendemos de uma intermitência à outra. Afinal de contas, a “solterice” é só uma intermitência... E pra mim sempre foi intermitência entre uma mulher maravilhosa e outra.

domingo, julho 16, 2006

Sobre Lucidez IV

Bem acreditei que a próxima postagem dessa série seria para concluí-la, mas não, mas ainda tenho algo mais ou menos preparado para a conclusão...
Mesmo que se onipotente e faça com o meu belo personagem o que bem entendo, ainda não tenho tanta dimensão de Seu caracter e o Dela, assim como preciso de um determinado distanciamento do relacionamento entre os dois.(isso mesmo, relacionamento entre. Todos os relacionamento são entre. não são “do”. não é relacionamento dos Dois...!)
De facto, como pode parecer, eles possuem uma determinada independência. E nesta independência descobri um pouco do que se passa com Ele.
Inventei até um termo pra definir melhor: Relacionamento Biscoito. Acompanhem meu raciocínio: biscoito é bom. Diria que por vezes é melhor do que um belo almoço. É bom se fartar de biscoito, os salgados e doces. Mas, como o Ministério da Saúde Adverte, o biscoito não deve ser a única fonte nutritiva. Tem-se de buscar algo a completar...
Não que um relacionamento possa ser somente biscoito, ou que o seja igualmente para os dois. O que pode ser relacionamento biscoito para um do casal, para outro pode ser um jantar com vinho e velas...
E não também que este tipo de relacionamento seja todo ele biscoito, relacionamentos se tornam biscoitos. É esse o grande problema. E como eu disse de para um ser biscoito, para outro não; digo algo relativamente dramático.
Nosso personagem se sente um grande biscoito. Passou, mesmo que durante pouco tempo, a não nutrir mais. Virou insosso. Não só um grande biscoito saboroso, mas sem sal, sem açúcar, enjoativo. E como não se pode viver só de biscoito, buscou-se uma bela refeição. E com uma dor que somente os quitutes sabem, Ele percebe que não deseja mais ser um petisco.
Mas não que ele ache ela uma glutona. As cousas perdem ou modificam o sabor. Simples e triste assim...

Ps.: Como tenho o dicionário virtual do Aurélio Buraque de Holanda, coloco uma definição:

Quitute - [De or. obscura.] S. m. 1. Iguaria saborosa, preparada com esmero. [Sin.: acepipe, petisqueira, pitéu e (bras.) paparicho, quitute.] 2. Fuzil (4) para ferir lume na pederneira. 3. Fam. Indivíduo ridiculamente pretensioso.


Colocaria a de sabor também, mas é uma definição longa. Longa e bela...

sexta-feira, julho 14, 2006

Sobre Lucidez III

Hoje nosso personagem está particularmente triste. Dores de afeto. Apercebe o carinho e o pouco zelo. Paradoxalmente.
Pede desculpas às mulheres que pôde ter magoado involuntariamente. Isso de fazer magoar é no mais das vezes involuntário, em cada um dos personagens, e cada um de nós. O que não nos justifica, claro está.
Isso mesmo de pedir desculpas é quase como uma reza. E colocado assim impessoalmente, como as rezas muitas vezes o são, pediria por um deus onisciente que vá a calhar o pedido e a redenção. Como Ele não é lá muito bem chegado a deuses, muito menos naqueles que tudo sabem, quase ficaria ali, “a deus dará”. Se não fosse por mim, é claro, que, por o ter criado, tenho todo o direito de ser seu próprio Deus. E como sei da estória, transmito os votos.
Cumpro cá o meu papel.

quinta-feira, julho 13, 2006

Sobre Lucidez II

Uma das maiores dificuldades depois de um longo relacionamento é a lembrança, ou poderia dizer, o suvenir.
Ele, no dia do término, foi ao dermatologista. Não que isso seja um fuga do assunto. Tratou-se de verrugas, queimadas, muitos sabemos, com água a -20c, ou sei lá. Queimou-se três, duas dentre as quais distribuídas em cada mão. Com elas mal pôde fazer os últimos carinhos.
Não teve, de fato, nosso personagem, uma boa noite. Com frio, com dores de queimaduras e, finalmente, com dores de afeto.
Teve, no dia seguinte, de tratar de suas verrugas; de lembrar o quanto mudou seus tênis; novas músicas; uma foto belíssima que permanecerá no quadro; um perfume; um livro de seu autor preferido, que não pode ser lido de pronto; sonhos cosmopolitas; e-mails aos montes; Ele mesmo. Não, não que Ele se veja como uma "lembrancinha", ou que tenha sido um objeto. A questão é que Ele mesmo tornou-se outro, e esse jamais sumiria por completo. Por isso não poderia fazer muito mais do que aceitar. Como os gregos, simplesmente aceitar. A lembrança não estaria nas coisas, mas nele. Onde quer que fosse.
E lá está ele, com uma dificuldade enorme de tirar os bandeides da perna cabeluda.
Isso dói bastante, meninas.
Vocês sabem...

quarta-feira, julho 12, 2006

Sobre Lucidez I

“Quando não há mais assunto, não há mais relacionamento”. Não conversavam há algum tempo. Não, é claro que conversavam, mas aqueles desagradáveis momentos de silêncios eram cada vez maiores. E, humano que era, Ele sempre pensava na melhora, na fase; protelava, procrastinava o fim sonhando ainda com um uma possibilidade. Mas mesmo sonhando, apercebia da condição “relacionamental”. Não estavam bem.
É claro que poucos poderiam perceber. Somente os dois não seriam pegos realmente de surpresa. Os relacionamentos têm disso; há todo um mundo somente entre duas pessoas, as outras ficam com impressões, como as moradoras da caverna de Platão. Não se podia saber de tudo realmente o que havia entre aquele casal feliz. Não entendam isso como uma ironia completa, não que fossem infelizes, mas eram menos completos e despidos de problemas do que poderia parecer.
E Ele ficou triste, mas sem sofrer tanto. Pensou que era cedo para desgastar, não muito tarde para terminar. Ficou triste porque esperava e queria mais. E teve claro que não poder-se-ia insistir. Só poderia ser pior. Seria melhor sair enquanto se gostavam, enquanto se respeitavam, enquanto poderiam ver a felicidade passada. Agradeceram ao público. Abaixou-se à cortina. Escutaram os aplausos e ficaram felizes de ter sido um maravilhoso espetáculo.

segunda-feira, julho 10, 2006

Se Dane

Eu, eu, eu, Zidane se fudeu! Eu, eu, eu, Zidane se fudeu!
Ou então... Ô, ô, ô Zidane se queimou!! Ou então...
Ou, ou, ou, Zidane zi danou...
fora os trocadilhos infames, foi isso que aconteceu. Com tudo para fechar com chave de ouro sua carreira, Zinedine Zidane (sim, tive de olhar num desses glogs de esporte o nome completo dele) pagou caro por sua perda de controle. E achei que veio bem a calhar, mesmo que Materazzi (tambem pelo site...) seja conhecido por ser um jogador sujo (sim, outra informação colhida no blog da placar, não entendo tanto de futebol assim..!), não se justifica uma agreção. Não é o caso, é claro, de resumir 16 anos de carreira (muito ultil o blog...) numa perda de controle, ele é um grande jogador e não preciso de internet para saber disso. Mas que merda é essa, vamos passar a justificar uma agreção por insultos à família e "apertadinhas nos mamilos"?!?!
De qualquer maneira, torci, de fato, pela Itália. Mesmo porque ganhei uma camisa da italia na minha festa de aniversário sábado (obrigado pelo carinho de todos). E além do mais posso justificar com a conveniência de diminuir a hegemonia do brasil no futebol mundial... "Tudo pela arte".

terça-feira, junho 20, 2006

Vontade política 1


Um diálogo em uma aula quase formada com um professor bastante citado:

(Depois de uma análise sobre poluição hídrica e sobre a necessidade de tratar a agua e os rios...)

Professor - Então, gente, porque se polui tanto a água, os rios?
Período de silêncio característico nestas circunstâncias...

Aluna - Os políticos, quando não são donos de empresas despoluidoras de rios, são amigos de donos de empresas que despoluem. São, então, beneficiados com a poluição e, posteriormente, com a despoluição... Além disso, despoluir água não dá voto!

Professor - Sim, é claro que tem essa circunstância de corrupção e oportunismos entre os representantes. Mas temos de pensar em uma outra causa, a falta de vontade política. Não há vontade política. É esse o problema!

Vontade Política - 2

Fiquei impressionado pelo diálogo acima. É claro que ele não aconteceu daquela maneira organizada, com virgulas, tal como um romance. Mas o conteúdo foi aquele. E foi justamente o conteúdo que me impressionou. Existem alguns sensos-comuns dentro da academia [não na de ginástica, ou melhor, nessa também] que me causam náuseas. Um destes é o tal da "vontade política - V.P", parece que com vontade política se resolve tudo.
No caso do diálogo, a V.P está associada ao fato dos políticos serem oportunistas corruptos e/ou de escolherem aquilo que dá mais voto.
Então, voltando à V.P, é como se os representante tivessem sobre uma mesa as opções de políticas a serem postas em prática. Dai, com um calculo racional de quantos votos eles ganhariam com as respectivas opções, lhes afetaria uma vontade de por em prática uma política ou não.
É como se numa dada sociedade não houvesse várias divergências sobre o que deve ser feito. Como se os próprios técnicos que formulam políticas tivessem um consenso sobre o que deve ser feito. Como se a própria ciência fosse absoluta, plenamente calculável e impressionantemente translúcida. Como se os próprios eleitores tivessem uma visão clara sobre um "punhado de coisas" e esta visão fosse facilmente captada pelos representados. Como se os jornalistas concordassem sempre com aquilo que deve ir a público. Como se os políticos estivessem às suas mãos plenos poderes de optarem por políticas que bem lhes dessem à telha. Como se dinheiro para políticas desse em árvores.
Mas simplesmente não fazem nada. Simplesmente por isso. Por falta de vontade política.
É claro que não desconsidero o fato de existirem políticos corruptos, oportunistas; não desconsidero que os políticos, como as demais pessoas, fazemos opções calculadas, racionalizadas. Claro que sim.
Mas restringir as coisas da vida à falta de vontade, mesmo que à política, é muito pra mim...

quinta-feira, junho 08, 2006

E há muita vida fora da ciência...

Sobre o desconhecimento tácito da vida, ou melhor, na vida, é mais ou menos assim: por mais que alguns podemos querer saber, há sempre algumas coisas que passam despercebida, coisas que não são ditas, ou se são, passam como se fossem outra coisa.
O que deve ser questionado é a atitude. nos quedamos a uma contemplação do insondável ou tentamos compreender algo?
Por forma de vida, prezo pela segunda opção. Mas é difícil, de tempos em tempos me defronto com as mais profundas certezas...
Mas o que poderia fazer, eu que me empenho na vida acadêmica?
Penso, então, num seguindo axioma:
A vida é um desconhecimento tácito;
e a ciência, um desconhecimento explícito.