terça-feira, outubro 31, 2006

A Fome


Era quase tarde da noite e ela estava tão chateada que foi logo logo dormir. Já seis horas sem comer nada, e realmente não estava empenhada em fazê-lo.
Ele era realmente uma coisa que a afligia. Não tanto pelo descaso, que realmente comportava-se como um namorado realmente carinhoso. Mas tanto pela falta de atenção, aquela atenção difícil de realizar, aquela atenção de quem escuta amarguras e responde, hora-sim-hora-não, alguma coisa; somente para que a outra pessoa (Ela) não se sinta falando para as paredes. É disso, de fato, que ela sente falta. Não de carinho, porque Ele de fato a ama, mas de penosa atenção, que ele de fato dispença(-se).
Do que ela sente preguiça? De um relacionamento 'modernete' somente em um sentido. Sente preguiça das pecuinhas. E sente preguiça de comer.
O que deseja? Nada além de olhares (dele) olhando-a como a um magnífico presente diário, todo dia; olhares como que diriam: "Que sorte eu tenho".
Ela foi à cama e ficou deitada, com olhos lacrimejados. Durante mais de meia hora. Tinha fome estava decidida em dormir com ela. Abraçada com a fome.
...
Reconsiderou e foi à cozinha. Tomou um copo de leite. Daqueles como "lagoinha", ou "Americano". Aqueles copos de cerveja. Tão pequenos...
E dormiu, bêbada de um pequeno copo de leite...
Quase sem fome. Que ela nunca acaba.

sábado, outubro 28, 2006

Estoques de Toreros


Malditas espadas do tempo. Fodam-se.

O Tempo e o Touro



Hoje é dia 28 e o Touro olha o vermelho. Aquele homem que ali está é como o Tempo, e é assim que o animal o olha.
O homem e o vermelho, um só e assim se comportam, dançando. E o touro persegue o Tempo.
E que o tempo passa, sabemos. E é isso que o touro persegue. Aquilo que se passou. O Touro olha o 28, e o tempo passa. O Coliseu grita: "Hole!".
O Touro só não percebe que o dia 28 repete a meses. A vida repete a meses. E, ao invés de olhar aos palhaços ou ao público, insiste em ir ao vermelho. Insiste em não perceber que, ao invés do vermelho e aquele homem, há sempre um dia 1° de Março.
Os Touros perseguimos muito o vermelho.
Mas o Tempo é um Toureador que nunca, nunca perde.

terça-feira, outubro 24, 2006

Bons Homens, aqueles Elfos...




Desde que sei da existência, sempre gostei de RPG. Espadas, história, imaginação fértil, vampiros de gerações imemoráveis, Elfos.
Sim, sobretudo os elfos. Acho que estes seres e o mundo à parte que todos temos (tenho) representam a necessidade do que é singelo, sem contudo ser moral, moralizante.
O mundo, acredito, perdeu o fio meada do que é singelo. Uma colher, por exemplo, de 50 anos atrás, uma cadeira; o abandono do utilitarismo que me mata hoje.
O mundo não é 'util', e continua a ser bonito.
E o Elfo, com sua delicadeza de cortar cabeças, sua graça. A Graciosidade.
O homem, e digo no gênero específico, perdeu a graça e continua querendo cortar cabeças. Embora eu não ache que a vida tenha um valor inerente , ainda acho triste um palavrão gratuito, um lugar não sedido à uma velhinha, um papel pelo vidro do ônibus. Isso é muito pior, as pequenas faltas de delicadeza.
Um elfo não faria isso. Não atacaria pelas costas, nao coçaria o saco em público, não contaria vantágem com a traição à Elfa. E o elfo adoraria uma colher com detalhes bonitos durante todo um dia. Como uma pequena joia. E pegaria seu arco ou sua espada para matar hordas de orcs, ou mesmo outros elfos, já que sempre temos inimigos que nao são tão diferentes.
E choraria por uma boa música e fumaria um bom cachimbo sem se preocupar com o enfisema no final de seus séculos de existência.
Gosto de Elfos pois são a aproximação fantástica do spiritu feminino...
E ainda conseguem cortar cabeças, como bons homens.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Ela é o Louvre



A Minha Linda?
A Minha Linda... Sei lá. Disse-me que tenho um brilho nos olhos. O brilho nos olhos, já disse aqui, é fundamental.
Mas Minha Linda fundamenta-se pelos dentes, ou melhor, pelo sorriso. Ela é Linda, e, Minha Linda, brilha nos olhos quando sorri. Como que automático. Como que uma decorrência natural de todo sorriso. Sim, em Minha Linda o sorriso é a própria causa de todo brilho, nos olhos, em tudo.
Em Minha Linda, então, o sorriso é o fundamento, a capacidade de rir de quase tudo e emitir luz. O sorriso de minha linda não cabe entre os lábio, deve, sua alegria, extravasar o limite dos lábios em batom.
Gosto dos batons de Minha Linda, gosto da meticulosa elegância em combinar cores, gostos, paladar. Da vida, em sí... Da sua exigência naquilo que deve ou deveria ser. E isso não seria geral para todas as lindas do mundo. Não, minha linda implica num elitismo, numa exigência, numa elegância que seria insuportável em quaisquer outras lindas. Outras lindas devem ser descoladas, a minha não. Deve ser exigente, e é Linda exatamente por isso.
A minha linda é o Louvre. Gosto muito da Feira de Caruaru, do Pelourinho, de Samba, da Lapa. Mas minha linda perderia a viajem em tudo isso.
Afinal de contas, Ela é Minha Linda e, como tal, não poderia ser diferente.

Seu sorriso não poderia ser a seriedade de outras. Seu refinamento não poderia ser a "vulgaridade" de outras belezas. Mesmo a vulgaridade, sem muito tom pejorativo aqui, pode ser
bela.

Mas não, não em Minha Linda.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Um monte de cotovelos...


Os cotovelos sustentam as letras. Os cotovelos sustentam quase o mundo...
Isso pelo seguinte, pessoas alegres se sustentam não nos cotovelos, mas no sorriso, ou naquele sorvete de creme...
A melancolia se sustenta nos cotovelos, e neles mesmos se sustentam a produção das letras. Um pouco por mim, diria, que só escrevo, ou quase só escrevo, baseando-me nos cotovelos.
Mentira? parcialmente mentira, já que digitar com o cotovelo na mesa é impossível... mas vocês entenderam...
Sobre isso de cotovelos e escrita, tem-se parte da incompreessão dos que não escrevem, ou não escrevem tanto em blogs. Uma postagem triste nao quer dizer que ou autores sejam tristes. E um blog completamente alegre quase não seria um blog.
Assim como um caderno azul não seria alegre, nem também um daqueles cadernos de escola, utilizados quase como diário, e que a menina escreve diariamente sobre o menino moreno sentado na primeira fila... E que, coitada, nem dá-lhe bolas!
Ps.: A metáfora dos cotovelos nao é minha, mas da Christine, e não poderia roubar-lhe a beleza.
Ps. 2: Achei que estava faltando um Homem Acotovelando...

domingo, outubro 15, 2006

Azeitonas

Sentia-se só e solitária. O que na verdade são coisas ligeiramente diferentes.
Foi à geladeira como quem procura um abraço. Viu um vidro de azeitonas. Adora azeitonas. Foi sem mudar a fisionomia, mas com alguma esperança. Não conseguiu, no entanto, vencer o pote. Abriu a geladeira e guardou as pequenas esperanças verdes, que não poderiam ser de outra côr.

Guardou-as como quem guarda a sí mesma.

Permaneceu, depois, sentada. Como uma tampa invisível.

quinta-feira, outubro 12, 2006

A primogênita

Eu diria que o que sou, devo ao desprezo feminino original, inaugural. Não só pela primeira, mas aquelas que se seguiram, durante anos.Esteve ali a minha "salvação", se posso colocar nestes termos.Eu tinha onze anos. Ainda quase usava aqueles bigodes ralos, típicos de uma fase de pré-adolescencia. Estava, na verdade, louco para deixar de ser "virgem de boca", como se dizia...E, numa daquelas festas de interior, festa de padroeira. Festa ótima, onde as várias amigas da prima ficavam de olho nos 'meninos da capital'. Foi ali que aproveitei a capacidade de entrosamente de minha prima e fiz 'as honras' para uma menina mais velha com a ajuda de meu 'primo mas velho', também 12. C. E. Linda, inteligente, simpática, com um belo sorriso. Deve vir dai, quem sabe, o fato de eu gostar de belos sorrisos e cérebros maiores do que o meu. Porque é bem por ai, gosto de cérebros, dentes e alegria... Entre outras coisas...Mas, voltando à primogênita, foi bem difícil. Naquele veho esquema de "diz dizer que eu disse", e que se finaliza com uma frase muito usada por mim: "Estou afim de ficar com você, você está afim de ficar comigo?" hahahhahahhahahaDá-me vontade de rir, ao lembrar dessa frase.E. C. me enrolou por dois dias, se me lembro bem. No final, ficamos em uma rua secundária, com uma amiga dela vigiando a chegada de qualquer conhecido! Afinal de contas, cidadelas interioranas, quase todos conhecemos a dinâmica.E ficamos durante algumas horas, ou sei lá quanto tempo... eu era muito mais abusado do que hoje, caractéristica que inclusive possibilitou eu colocar a mão debaixo da camisa dela, mas apenas tocando as costas! Engraçado isso, que hoje me sinto quase um 'canalhinha' por conta do abuso, que hoje seria quase tão banal! Mas tinha 11 anos, vamos levar isso em consideração... E, levando, acho que 'a menina mais velha se assustou'. E, por isso, quem sabe, desprezou. Foi uma daquelas desculpas: "meu pai ficou sabendo, nao rola mais." Na verdade nunca saberei, já que nunca mais conversei com ela sobre o assunto, mas digo que tomei uma caipirinha, ou capetão, ou algo do gênero. E cambaleei depois de levantar do banco, e chorei num canto qualquer da praça, sozinho.
Nos mais ou menos 7 anos seguintes, nunca tive qualquer "ficante" por mais de 3 encontros. Passava meses sozinho. E me esforecei, cada vez mais, em ser atencioso, já que me sentia mal ao lado dos meus amigos, sempre com muitas "ficantes", e eu sempre o pato feito da turma.
Pensando nisso, é muito engraçado. Hoje, de fato, minha autoestima é realmente grande. São poucas as mulheres que me assustam, que fazem-me sentir completamente impotente, que fazem-me fugir. Sou, quase sempre, hoje, somente parcialmente minguado.
Com a menina precebi que mesmo tendo certeza de que ficaria com ela no dia seguinte, nao há nada no mundo que garanta o desejo, o amigo, o amor, a outra pessoa. É claro que isso é uma implicação lógica complicada, já que era tão novo, e somente fui amar muitos, muitos, muitos anos depois. Não foi, pois, a menina que fez-me entender, mas a partir dela.
Mas foi o início, onde percebemos que, a qualquer momento, sendo não dada uma atenção, podemos perder-nos e perder os outros.

(Esta postagem acabou por ficar bem parecida com uma outra que eu li, mas não foi um plagio. A falta de apreço pode ter uma capacidade pedagógica muito maior do que pensamos.)
Em tempo: os meus amores também me ensinaram muito, e só depois de ser amado é que pude amar. Mas isso é assunto para outra situação.

ps.: meu pc está com problemas, entao, hoje, nada de letras coloridas, fotos, ou texto justificado. Estou sem mouse.

sexta-feira, outubro 06, 2006

O carinho pode acabar entre 'os seletos', o respeito e a polidez... não.


A paixão é sua guia. Isso é de fato difícil. Sempre quer mais ou menos, é passional, é intensa. Odeia, passa pelos corredores procurando, olha e-mails, olha a secretária eletrônica e sempre verifica se o telefone está funcionado. Fica olhando à espera de uma resposta, precisa saber das horas e sempre acha que existe algo nas entrelinhas.
Ela é pesada, penosa, linda. Sempre quer saber das coisas de modo escancarado. Sempre acha que deixaram de dizer algo. Sempre acha que a odeiam ou amam. Porque ela á assim, ama ou odeia, e se incomoda com o mais absoluto consenso. Não consegue não dar atenção. Não evita a cerveja, quer saber como seus amores estão, quer falar sobre tudo. Quer matar a aula, tomar a tequila e discutir sobre as questões etéreas e vulgares. Ir à sinuca, ao cinema, achar um local seguro para comprar maconha, comprar sorvete, comprar cachaça, tomar chimarrão, fumar cigarros, ler suas obrigações acadêmicas, ler suas obrigações cotidianas; ler as pessoas.
Isso poderia ser um processo: ela tem obrigação com as pessoas. Não nega e não gosta de negações. 'Não me neguem', quase diria, como quem pede para não ser relegada ao passado. Não quer ser o passado, e isso reflete sua incapacidade de lidar com o tempo. Não, não que tenha dificuldade com as rugas, cabelos brancos ou o futuro peito caído - ou melhor, os dois peitos... Tem dificuldade com as relações caídas, com a rotina, consigo mesma, com o tempo que a domina. Ela é improdutiva, não entrega as atividades, não lembra dos compromissos correntes, tem dívidas mais sublimes: com as pessoas.
Ela quer, então, ser cercada. Quer os seus semelhantes e os seu quase semelhantes. Ser cercada por eles, dialogar. Não muitas pessoas, mas as seletas.
Sobretudo, pessoas, ela não gosta do descaso. Façam um favor, se despeçam caso queiram distância. Sejam atenciosos e digam a ela no caso de uma necessária distância, no caso de uma necessidade de descanso para com o perfil tão difícil dessa garota. Não saiam simplesmente. Digam ‘oi’, perguntem ‘como está’, sejam polidos. Ela precisa disso: polidez. Polidez, gentileza, educação e carinho. Ou melhor, não tanto o carinho. Ela resiste à falta de um carinho tópico, determinado. Ela precisa, na verdade, do mais profundo respeito. Respeito e polidez, quase todas elas precisam...

quarta-feira, outubro 04, 2006

Fodam-se

Minha vontade, de fato, é chutar tudo e colocar um foda-se no meu MSN. Mas não, sou muito recatado para isso tudo! E sou muito mal humorado. Tanto que tenho preguiça de minha falta de paciência. Hoje tive vontade de socar um sujeito que furou fila no bandeijao. Tive vontade de mudar de curso. Quem sabe pra algo mais lúdico. Algo na comunicação ou arquitetura, design, sei lá...

Minha vontade é não pensar em nada que me faça odiar meu trabalho e em nada que me faça ter a convicção de milhões de reais do contribuinte mal empregados. Minha vontade é ter convicção de as pessoas sabem para que serve um cientista social. Afinal de contas, todo mundo sabe o que faz um arquiteto, mesmo que ele faça cadeiras ao invez de plantas de casas...
Vou fazer comunicação e me vender a algum jornal medíocre e direitista. Assim nao precisarei pensar. Ou talvez continue nas ciências sociais e comece a trabalhar na acessoria de algum fascista por ai. Nem precisa ser um fascista, pode ser um ruralista que adora dar tiro em sem-terra. Nada que exija consciência. Ai eu arrumo uma loira oxigenada, amantes, carros importados, um filho marginal, sei lá....
Não, melhor não. Vou fazer arquitura e decorar interiores. Dai poderei vestir saias e não preocupar com minhas desmunhecadas esporádicas. Afinal de contas, não fará muita difereça se não sou macho o bastante para achar normal meus grandes amigos serem machistas de merda!!! Minha desmunhecadas poderão até contar como diferencial profissional.
Algo que não me faça pensar em algo que envolva centenas ou milhares de pessoas. Nada de milhões de reais aplicados em um metodologia equivocada, porque imediatista.
Lembrei-me de um piada que adoro, justamente pela idiotice: "Arquiteto foi aquele que nao foi macho o bastante para fazer engenharia nem bicha o bastante para fazer decoração."
E o Sociólogo? Aquele que não foi avançado o bastante para fazer Jornalismo nem conservador o bastante para fazer Direito.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Olhos e elogios

Diariamente leio os blogs ao lado. Um a um. Estes que escrevem não se surpreendem tanto com meus elogios. São de fato tão comuns que alguns nem já os lêem com os mesmos olhos. Parecem, os elogios, não os olhos, firmados em gentileza tamanha que as vezes penso se acaso eles realmente sabem e acreditam no tanto que bem escrevem.
Acho que não. Escrevem de modo normal, sem grandes pretensões. E escrevem, quem sabe justamente por isso, feito grandes poetas. Pergunto-me quantos poetas ficaram escondidos antes dos tempos dos blogs. E que agora se mostram em restritos grupos e escrevem "postagens", nome atual para muitos poemas.
Muitos desses tenho de ler várias vezes, até chegar à mensagem, minha mensagem, de determinada maneira. Os bons textos são assim, têm de ser digeridos, lentamente, gradualmente. Por isso as vezes nem deixo comentários. Acho que não saberia dizer o tanto que alguns textos são bons. Lembro-me de um filme em que o personagem faz um fabuloso discurso que não recebe nenhuma palma. À frustração do personagem, outro acalenta falando de como o discurso não foi aplaudido justamente por ter sido muito emocionante. Algumas coisas são tão boas que não podem ser aplaudidas. Algumas coisas devem reinar um tempo no silêncio.
Minha relação com os blogs é mais ou menos essa: me dão alguma esperança na qualidade de produção artística nacional.
Não estou exagerando nem sendo demasiado gentil. É verdade que muitos vêem meus olhos como gentis, e de fato são, mas meus elogios são verdadeiros.
O problema é que as pessoas me tocam demasiado. Sim, as pessoas são belas... Tão belas que merecem um minuto de silêncio, como uma reza.