domingo, novembro 18, 2007

O rio de se encontra e se perde no mar...

Ah, querida. A solidão é eterna, e a saudade, grande enunciação de que nada acaba. Ai nosso réquiem, querida. Imprescindível, doloroso, eterno. Tornei-me homem. Desvirginei-me. Sonhei, dancei. Dançamos, querida! E desde o principio você fora a minha bailarina! Perfeita, sem pudores, sem doenças. Alva por de cima do palco. O céu se abre por cima de você, sua pele protegida, seu desespero de morrer.

Aprendi a vida e a música ao seu lado. Sua trilha em minha vida, querida. Em Allegro, Vivace e Presto. Nunca fomos em andamentos non tropo, querida. Fomos muito! Quantas vidas, quantas promessas, quantos comprimentos. Ai, fala!

D’antes era simplesmente o adolescente aprendendo a ser amado. Para então amar profundamente, errar, fazer planos, descumprir preceitos. Devo-lhe profundamente, como concertos de cravo. Você foi meu anjo barroco, querida. Amor em ascensão e queda. Eterno pecador de éticas ingênuas e rigorosas. Impossíveis. Fomos impossíveis, querida. Vencedores, sem dúvida. Amor eterno e sonhador de igrejas suntuosas. Bach, querida. Lembro que em infância disse à minha mãe que adorava “Bak”. Ela não compreendeu, é claro. Somente muito depois soube que o amor é como Bach, se pronuncia na surdina, e parte de tudo ficando no subterrâneo, no impronunciável, no relacionamento, querida. E em gritos de amor, lindos e dolorosos. Todo relacionamento é uma ética linda e miserável de fingir ser um.

Não fomos pouco. Sorrimos e choramos desde o começo. Tanto por tristeza quanto por alegria. Aprendi a chorar e sorrir com você. Meus choros eram sempre alegres, insossos, vulgares.

Perdi minha vulgaridade com você, querida. Antes era tão pouco a primeira parte de tudo. Depois descobri o barroco: a alegria e o pecado; a felicidade e o sofrimento; o claro e o escuro. Ai, a culpa! Que bela a culpa e o amor, a bebedeira e a ressaca. “Você é que disse: vai, levanta e faz andar o Amor. Caminha!” Corri. Corri tanto que toda maratona de amor pareceria os 100 metros. Caí, esfolei, sorri e chorei. Ai querida, fomos gregos! Nossa história seria o encontro de um mortal e uma deusa, querida! Eu terminaria com uma estátua a olhar o céu, para mostrar aos mortais o que acontece em amar-te. Você foi minha Galatéia, queria. Estátua e ninfa. Sou Pigmaleão e Ácis. Mas nunca lhe dei grandes presentes. Foi você quem me deu uma caixa. Dentro dela, como quase caixa de pandora, nasceram meus sentimentos. E, ao final: Eu mesmo. Você me presenteou comigo mesmo, querida.

Não lhe devo nada mais do que ter-me tornado humano.

3 comentários:

*Mr. Tambourine* disse...

Que isso! Isto que é uma mulher de verdade!
Onde elas estão sendo fabricadas?
huahuahuahuahuhuaa
abração!!

Lilika disse...

Agora entendi pq é tão difícil... vc já faz parte de mim.

é algo meu que se vai.

quel disse...

ai, miro......

se eu fosse a autora da sua vida ia deixar os dois juntos, pra sempre. sei lá.

mas não é assim.
tem que ter muita coragem...

seja assim, seja isso, tão bonito e tão alto.

muito amor, né?