quarta-feira, agosto 01, 2007

Capacete



"A gente se compadece e se apega às pessoas que sofrem. [Lu, 2007]"
Na verdade, muito cristão isso.
“- Só motoqueiro que arruma isso” [Corpo desconhecido, de uniforme e entrando no ônibus, 2007].
Esta foi a primeira frase que escutei ao entrar no ônibus. Algum tempo antes estava é pensando em todos os amores e apegos de minha vida, nas pessoas que sofrem e riem, que fazem dos próprios cabelos cachinhos, e nas tantas que seguram talheres ora com estrema fineza, ora com aquela força que só vemos nos famintos de restaurantes no centro.
Certo, não era em todos os amores que pensava, e deles pouco importa agora. O importante é que o meu pensamento foi interrompido pelo conhecimento de que o ônibus estava mais atrasado do que o habitual. Há poucos metros, uns 15 ou menos, um carro parando todo o trânsito. Na pista ao lado, e no mesmo sentido, um corpo. Não vejo bem ao longe, fato que denota minha arrogância e pretensão. Não reparo em um palmo diante do meu nariz, e lembro somente de minhas espinhas e costeletas.
Mas lá estava o corpo, ainda vivo, um carro bem arrebentado, e uma fila enorme de outros carros atrás. Parece-me, inclusive, que a situação tinha algo de nobre, de auto-impositora de respeito. Uma enorme fila e nenhuma busina.
Poucos envolta do corpo, que embora tenha um RG e ainda estivesse vivo, é um corpo. Os corpos, por si só, são anônimos. Até compreendo pessoas em volta de corpos jogados por batida, afinal de contas, alguma solidariedade é compreensível quando o resgate ainda vem e muitos se questionam se virá em tempo ou não. Alguém tem de manter o corpo acordado. Apesar de não saber o porque, e o porque de isso acontecer em tantos filmes. "Não durma, Jack. Não durma. Fale comigo!".
Mas o de depois, quando de um resgate que avisou da chegada à distância, os corpos, em pé, avistando o deitado, se multiplicaram. Por que diabos as pessoas ficaram ali, olhando o corpo deitado, quando a ajuda já vinha, e lá parou. Imagino que a ajuda, com sua sirena, precisaria de espaço, de calma, e de menos corpos em pé. Curiosos. Lá pararam.
E o que não entendo é a primeira frase quando de minha entrada ao ônibus. Porque diabos têm de colocar a culpa no pobre do motoqueiro?

8 comentários:

Lu disse...

Muito bonito isso... Deixa eu te contar uma coisa sobre motoqueiros. Eles tem pressa. Eles precisam fazer suas entregas e pra isso eles passam na frente até mesmo da vida deles. Eles precisam alimentar seus filhos e por isso passam colado nos carros, ficam nos pontos-cegos dos motoristas e não são vistos. E a gente sempre acha que eles vão desviar, por isso ninguém liga. Por isso a culpa é sempre dos motoqueiros, porque eles tem familias pra sustentar.
:P
dramático, não?

marthacomth disse...

É impressão minha ou vc fez uma referência a Titanic nesse post??
Hahahaha!
Tb gostei do que vc escreveu, e a Lu tá mesmo muito dramática!
Beijos!

Sei lá, Sei não disse...

A Lu tá certíssima. A culpa é de quem cai...

marthacomth disse...

Hahaha.. que ótimo esse teste!!

Se vc reparar na letra de "Martha", tem um pouco a ver com aquela história que vc fez... só que por telefone.. e menos cafona.. haha

Beijas! E sim, vai ser no maleta!

*Mr. Tambourine* disse...

Também concordo!!!!

Porque tem que botar a culpa em nós motoqueiros????

Nem todos motoqueiros são moto boys!!!!!
uhauhuhauhauhauhauhauha

Ana Luiza Paes Araújo disse...

os motoqueiros são sempre os culpados né?
Isso é intriga da oposição de quatro rodas. é só porque os motoqueiros conseguem se safar dos engarrafamentos. Pura inveja!

marthacomth disse...

sábado, cinco horas!!!

Anônimo disse...

Voltei a escrever algumas coisas no meu blog