sábado, dezembro 24, 2005

Queridos amigos invisíveis e inexistentes...

Vendo as coisas de um modo crú, esse negocio de blog é mais um sinal de solidão, pelo menos em boa parte das vezes. É como uma forma de desabafar pra ninguem especificamente. E justamente por nao ter ninguem específico pra desabafar. Então, se escreve coisas que poucos lêem e se limpa a consciência, do tipo: "não podem reclamar que não sabiam o que eu penso, já que está exposto". Tem solidão maior? Não é do tipo de coisa do "meu querido diário", onde ninguem lia; mas do tipo de coisa: "meus vários amigos invisíveis e inexistentes...".
Se estivessem, realmente, companias, as pessoas nao escreveriam tanto em blog, pelo menos em um como esse, coisas melancólicas e subjetivas. Só escrevem por nao ter com quem realmente conversar.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Depois de uma semana escrito...

Não gosto de mulheres. Na verdade, na verdade mesmo, mulher é bom. Só as mulheres conseguem levitar. Os homens não. Homens são grotescos. Estão mais pra trotar do que levitar. Conheço várias que levitam. Pouquíssimas que, como homens, trotam. Olho para as mulheres, as sigo nas ruas, as fito nos ônibus. Mas, voltando, na completa sinceridade, não são as mulheres que me atraem. É a mulher.
Não, ainda não se trata de paixão declarada por uma específica, mas, potencialmente, por muitas, especifiquíssimas. O que eu gosto, gosto mesmo, não é mulher, mas companheira. Não a que casa, ou mesmo a que namora. A que dá atenção. A que escuta. A que chora. A que sente saudade e me liga, falando mansinho e chamndo-me de algo muito diferente de “Fofucho” ou “Fofuchinho”; mas chamando-me por algo muito próximo de me homem e de amigo. Gosto da mulher que me trata assim, como um amigo e como um amante. Não exatamente na forma de festejos de dia de namorado.
Nem namorada ela, a mulher, precisa ser. Pode ser daqueles amores intermitentes, mas não amores convenientes. (Uma coisa que não pode ser conveniente é amor). Ela pode ser daquelas que me nutre o mais profundo carinho e de tempos em tempos me gera o mais profundo amante. Amizade Colorida, mas não uma amizade colorida que está disposta a simplesmente ouvir os “sim”, os “claro, estou bem”, os “sim, sexo agora”; mas que esporadicamente seja capaz de não ouvir nada de mim, de saber que quero ficar calado, cabisbaixo, com vontades de sentar em colo e receber cafuné. Sim, homens também gostamos de cafuné, como um felino que, cansado de “pegar as gatinhas”, queremos simplesmente receber aquele Carinho dos Carentes ou Atenção dos Manhosos. Claro, isso está bem próximo da namorada, mas aproxima-se mais daquela relação de não necessária exclusividade, própria dos namorados.
A Mulher nem precisa ser A Companheira, mas é absolutamente necessário que ela esteja A Companheira. Indisposta a somente receber, mas muito a doar-se; capaz de permitir que o outro não sejamos o Macho, ou não o tempo todo.
A namorada é, dentre estas facetas da Companheira, também uma boa opção de relacionamento. É aquela que te leva pra casa e assume que você possa não somente entrar na vida dela, mas permite que acorde em sua vida no dia seguinte; e que ficam num quarto, enclausurados, e quando liberados da exclusividade do espaço, vão enfrentar os pais, os irmão, os animais de estimação, a vida da companheira que, por ser exatamente isso, a companheira, me assume como importante. Mesmo naquela manha seguinte de uma noite anterior. Porque, sabe-se, na manha seguinte de uma noite, ninguém agüenta aquele danado gosto de manha seguinte.

sábado, dezembro 03, 2005

Meninininhas e Varões

Na verdade eu quase não sei de onde se tira a firmeza, a autoconfiança, a autonomia, a firmeza e todas as “virtudes” típicas ao masculino, ao Homem, ao ser viril. Digo quase porque isso faz parte da “cosmologia ocidental”, para usar uma palavra típica da sociologia para designar um complexo de formas de visão, que construiria um todo “coerente”. E essa coerência, em parte ditada durante séculos pelos homens, e aceita pelas mulheres, é de fato eterrorizadora. E hoje, já iluminados pelo iluminismo - para ser bastante redundante- nos dispomos de uma mesma “cosmologia”, anda mais embuida de “aspectos avançados”. Para ser um pouco menos prolíxo: nos comportamos de modo tão tradicional que, em arroubos de igualdade entre gêneros, construímos os estereótipos do permitido à igualdade. Temos metrosexuais, e outras “tribos”, como a daqueles jovens em que os homens podem ser sensíveis como uma menininha. Colocamos estas exceções e reafirmamos a regra de que o homem de verdade não pode ser sensível. Não pode querer atenção, carinho, ser sincero, chorar, deixar a mulher sair sozinha sem uma cara de desaprovação, deve repudiar homosexuais masculinos, ter homofobia, ficar incomodado com abraços entre homens, beijos no rosto, homens andando de mão dadas. Cá entre nós, os russos são bem conhecidos pela sua “masculinidade questionável”, né? Claro que não! Já tom e Vinicius poderiam andar em Paris de mãos ou braços dados, já que eles, de tão avançados, são exceções que confirmam a regra. São possibilidades típicas de exceções: artistas, o poetinha e seu maestro.
E para continuar a tragédia temos as mulheres reafirmando-a. Porque, afinal de contas, se os homens são seguros, firmes, decididos, másculos, ou seja, verdadeiramente homens; porque ligar, porque mostrar interesse, porque exigir que sejam mais abertos, sinceros, honestos, verdadeiros? Homem é homem, porra! Just it. (o palavrão foi só um momento de reafirmação diante de um texto tão aviadado!)
E continuando a afirmação da masculinidade pelas muhleres temos que todos os homens são iguais: não ligam quando combinam, são galinhas, canalhas, cafajestes, porcos chovinistas; não necessariamente nesta ordem. E estão absolutamente corretas! E como regras são regras e exceções são exceções, as últimas serão tratadas como primeiras, afinal de contas são somente exceções. Como confiar em uma?
Quase me esqueço: são absolutamente insensíveis. Homem não chora. E sobre a reafirmação que as mulheres dão a isso, lembro da frase: “Odeio ver homem chorando”. Este incomodo típico de várias mulheres é o incomodo de elas se sentirem inseguras. Afinal de contas, “se homem não chora, e este que está em minha frente está chorando, ele é o que? Sobre a impossibilidade de conceituação, como devo tratar?” Deve ser da mesma raça dos que compram flores. São normalmente “bonitinhos”, percebem? “Hã?! Comprando flores para sua namorada sem uma data ou alguma outra coisa em especial? Que bonitinho...”
E, enquanto as exceção são tratadas como tais, e sob a rotulação da regra, os homens continuarão sendo tais como são, precisando absolutamente de carinho e atenção, diferente de todos os homens e iguais a todas as menininhas...
Aliás, diferente de todas as menininhas, porque estas podem chorar...

quinta-feira, dezembro 01, 2005

D.I.T

Lá vai o rodrigo rumo ao país menos glamouroso ( acho que não é assim que se escreve) dos mas glamourosos (ibid). De qualquer maneira, vai lá ganhar notas verdes que não são de 1 real, ver bundas branquelas e servir de mão de obra barata (na verdade barata dependendo do ponto de vista) e sentir na pele mais um reflexo da Divisão Internacional do Trabalho. Ê frase marxista!!!
Embora acretide que seja isso mesmo, é engraçado como a divisão do trabalho, numa frase como essa, é quase uma pessoa... da quase pra falar: "ô fulano, sabe quem eu vi ontem? a 'Divisão Internacional do Trabalho', tomando um wisk com o 'Sistema'!" se bem que eu acho que uma bebedeira com a D.IT. deveria ser alguem tomando wisk e outro pinga. ou melhor, um tomando o wisk e outro buscando-o. Sem beber, porque beber no serviço não dá...
Tá bom, tá bom! De quaquer maneira é melhor não pensar no reflexo da DIT, Rodrigo. Pelo menos enquanto quem pega a bebida e limpa os pratos é você!!! Pensa no sol, é melhor... E melhor pensar, também, em mudar um pouco de ares. Algo mais tradicional... que tal Londres!?

segunda-feira, novembro 28, 2005

Sambas e o Reparar

Fundamental a tristeza. Ou, antes, o sofrimento de amor. Não pela impossibilidade de fazer samba quando não sofremos. Não faço samba, mas o escuto.
E, para mim, tão somente por escuta-lo é necessário o sofrimento de amor. Quem já o sentiu sabe do que falo, desde que goste de música.
Uma boa parte das músicas (pegaria dúzias de exemplos entre Buarques e Vinícius, Tons e Caetanos) só podem ser realmente apreciadas à luz de um sofrimento de amor. Embora a letra seja a mesma, o que muda é o espírito, já capaz de olhar, e “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara” [Ensaio sobre a Cegueira], e que, ainda o espírito, sofredor, torna-se capaz de escutar, de ler, de identificar-se.
Deve ser esta, propriamente, a palavra. O espírito que identifica na música, no poema, no filme, numa história. Embora seja melhor ser alegre do que triste, isto só é patente por um sofrimento, ainda que a miude; uma perda, ainda que passageira.
E, pela transitoriedade do sofrimento, reparar a estabilidade da poesia!