Sim, excelentíssimos. Estão certos em uma coisa: sou culpado por ter-me distanciado dos padrões morais. Não digo tanto aqueles verticalizados, estruturados, ditados de modo curto e grosso pelo coletivo. Não. Minha pena é maior: posso ser acusado do distanciamento de minhas próprias leis. Não que sejam tão somente minha, que isso não há. Leis coletivas, sem dúvida; mas leis adotadas, legitimadas, discursadas, apontadas em meus maiores momentos de oratória como o semblante de um devir humano, de um modo mais íntegro de existência.
Por este caminho, minha culpa não é tanto uma questão de ter-me desvirtuado moralmente. Não foram, então, tão somente suas leis as quebradas. Não me redimo. Pelo contrário, que o homem é tão mais culpado quanto quebra suas próprias leis.
Acertam os que vêem nessas palavras alguma onda relativista. Sem dúvida. Meu pecado é, pois, antropológico. Sou culpado por ter tolerado minha mais absoluta desculturação. Se não podem me culpar por ter sido arrancado do meu espaço, do meu tempo, da minha rotina, dos meus sonhos; podem me culpar por negligência e traição simbólica. Podem me culpar por, em momentos de maiores violências sobre mim praticadas, não ter levantado-me, não ter gritado, não ter vindo a essa côrte e dito: “ajudem-me a eu ser eu mesmo”. Não fiz tal coisa. Agüentei calado, por omissão, por medo, por vergonha coletiva. E foi então que depois de dias, rotinas, anos, horários e planos eu me tornei um maior inconfidente. Sou culpado, pois, não por no ter seguido aquilo que vocês esperavam, mas por eu ter-me permitido tornar-me alguém que não sou. E, o que é pior: nas sombras da mais obscura das casernas simbólicas, que é o próprio homem. Meu pecado, foi, pois, não o de conspiração, que é a honra dos descontes e cínicos transparentes. Meus pecados foram os inversos: de não ter conspirado, não ter feito, de não ter agido, de ter-me mostrado impassível diante de minha mais absoluta transformação.
Se, então, esse espaço foi pra mim aberto, digno de diálogo, de retrato, de mais absoluta transparência, eu simplesmente foi culpado de aqui não ter vindo em todo o processo de mudança. Receio dos inconfidentes é o rechaço. E nem todo rechaço é certo, o que se apresenta como bem pior o crime. E, quando calado passei por esses momentos de mudanças, quando acordo e não sou mais membro desse clã, dessa legião, desse grupo de amigos e amantes, não tenho mais nada além do justo rótulo de desviante, de outsider. Se pelo silêncio tornei-me, pela voz agora me declaro um culpado.
Por este caminho, minha culpa não é tanto uma questão de ter-me desvirtuado moralmente. Não foram, então, tão somente suas leis as quebradas. Não me redimo. Pelo contrário, que o homem é tão mais culpado quanto quebra suas próprias leis.
Acertam os que vêem nessas palavras alguma onda relativista. Sem dúvida. Meu pecado é, pois, antropológico. Sou culpado por ter tolerado minha mais absoluta desculturação. Se não podem me culpar por ter sido arrancado do meu espaço, do meu tempo, da minha rotina, dos meus sonhos; podem me culpar por negligência e traição simbólica. Podem me culpar por, em momentos de maiores violências sobre mim praticadas, não ter levantado-me, não ter gritado, não ter vindo a essa côrte e dito: “ajudem-me a eu ser eu mesmo”. Não fiz tal coisa. Agüentei calado, por omissão, por medo, por vergonha coletiva. E foi então que depois de dias, rotinas, anos, horários e planos eu me tornei um maior inconfidente. Sou culpado, pois, não por no ter seguido aquilo que vocês esperavam, mas por eu ter-me permitido tornar-me alguém que não sou. E, o que é pior: nas sombras da mais obscura das casernas simbólicas, que é o próprio homem. Meu pecado, foi, pois, não o de conspiração, que é a honra dos descontes e cínicos transparentes. Meus pecados foram os inversos: de não ter conspirado, não ter feito, de não ter agido, de ter-me mostrado impassível diante de minha mais absoluta transformação.
Se, então, esse espaço foi pra mim aberto, digno de diálogo, de retrato, de mais absoluta transparência, eu simplesmente foi culpado de aqui não ter vindo em todo o processo de mudança. Receio dos inconfidentes é o rechaço. E nem todo rechaço é certo, o que se apresenta como bem pior o crime. E, quando calado passei por esses momentos de mudanças, quando acordo e não sou mais membro desse clã, dessa legião, desse grupo de amigos e amantes, não tenho mais nada além do justo rótulo de desviante, de outsider. Se pelo silêncio tornei-me, pela voz agora me declaro um culpado.