terça-feira, julho 25, 2006

O Poetinha

É, gente, sou um dos que não gosta de postagens com letras de música, poemas ou coisa que os valha. Mas li isso do poetinha, O Vinicius. traio então meu ideal de tentar escrever e ponho cá um texto que nao saberia ter escrito...

abraço...

Separação

Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...
in
Para viver um grande amor (crônicas e poemas)in Poesia completa e prosa: "Para viver um grande amor"

domingo, julho 23, 2006

"Ensaio Sobre a Lucidez"

Sobre lucidez V - Ato final
Isso já tem alguns dias. Chorei pela primeira vez lendo um livro. Nem sei na verdade se poderia ser definido como choro, algumas poucas lágrimas. Dentre os vários livros de José Saramago lidos por mim da primeira à última pagina, e diria que não foram poucos: 7, foi este do título o que mais me emocionou.
E este foi um belo livro. Fala sobre lucidez e sobre a maneira como nada no mundo, digo Nada, passa sem conseqüências. E a conseqüência da lucidez também veio... Mas isso guardaria, de modo geral, para aqueles que tenham o interesse de ler. Não contarei o final da história.
Se bem que, num mesmo livro do Saramago, tem-se uma frase que é mais ou menos assim: “(...) perdoem-me os leitores se contei o final da história. Mas isso pouco importa, na verdade. Todos nós sabemos como acabará a vida, com a morte, e nem por isso deixamos de viver” Claro que ele foi mais poético do que eu, é o que o Nobel credencia. Mas a idéia da frase é esta, com mais ou menos palavras.
E diria, José, que a vida é relacionar-se. E os relacionamentos acabam... e sempre nos mudam. Como a vida é uma só e nada podemos levar dela, o que nos resta é levar o que aprendemos de uma intermitência à outra. Afinal de contas, a “solterice” é só uma intermitência... E pra mim sempre foi intermitência entre uma mulher maravilhosa e outra.

domingo, julho 16, 2006

Sobre Lucidez IV

Bem acreditei que a próxima postagem dessa série seria para concluí-la, mas não, mas ainda tenho algo mais ou menos preparado para a conclusão...
Mesmo que se onipotente e faça com o meu belo personagem o que bem entendo, ainda não tenho tanta dimensão de Seu caracter e o Dela, assim como preciso de um determinado distanciamento do relacionamento entre os dois.(isso mesmo, relacionamento entre. Todos os relacionamento são entre. não são “do”. não é relacionamento dos Dois...!)
De facto, como pode parecer, eles possuem uma determinada independência. E nesta independência descobri um pouco do que se passa com Ele.
Inventei até um termo pra definir melhor: Relacionamento Biscoito. Acompanhem meu raciocínio: biscoito é bom. Diria que por vezes é melhor do que um belo almoço. É bom se fartar de biscoito, os salgados e doces. Mas, como o Ministério da Saúde Adverte, o biscoito não deve ser a única fonte nutritiva. Tem-se de buscar algo a completar...
Não que um relacionamento possa ser somente biscoito, ou que o seja igualmente para os dois. O que pode ser relacionamento biscoito para um do casal, para outro pode ser um jantar com vinho e velas...
E não também que este tipo de relacionamento seja todo ele biscoito, relacionamentos se tornam biscoitos. É esse o grande problema. E como eu disse de para um ser biscoito, para outro não; digo algo relativamente dramático.
Nosso personagem se sente um grande biscoito. Passou, mesmo que durante pouco tempo, a não nutrir mais. Virou insosso. Não só um grande biscoito saboroso, mas sem sal, sem açúcar, enjoativo. E como não se pode viver só de biscoito, buscou-se uma bela refeição. E com uma dor que somente os quitutes sabem, Ele percebe que não deseja mais ser um petisco.
Mas não que ele ache ela uma glutona. As cousas perdem ou modificam o sabor. Simples e triste assim...

Ps.: Como tenho o dicionário virtual do Aurélio Buraque de Holanda, coloco uma definição:

Quitute - [De or. obscura.] S. m. 1. Iguaria saborosa, preparada com esmero. [Sin.: acepipe, petisqueira, pitéu e (bras.) paparicho, quitute.] 2. Fuzil (4) para ferir lume na pederneira. 3. Fam. Indivíduo ridiculamente pretensioso.


Colocaria a de sabor também, mas é uma definição longa. Longa e bela...

sexta-feira, julho 14, 2006

Sobre Lucidez III

Hoje nosso personagem está particularmente triste. Dores de afeto. Apercebe o carinho e o pouco zelo. Paradoxalmente.
Pede desculpas às mulheres que pôde ter magoado involuntariamente. Isso de fazer magoar é no mais das vezes involuntário, em cada um dos personagens, e cada um de nós. O que não nos justifica, claro está.
Isso mesmo de pedir desculpas é quase como uma reza. E colocado assim impessoalmente, como as rezas muitas vezes o são, pediria por um deus onisciente que vá a calhar o pedido e a redenção. Como Ele não é lá muito bem chegado a deuses, muito menos naqueles que tudo sabem, quase ficaria ali, “a deus dará”. Se não fosse por mim, é claro, que, por o ter criado, tenho todo o direito de ser seu próprio Deus. E como sei da estória, transmito os votos.
Cumpro cá o meu papel.

quinta-feira, julho 13, 2006

Sobre Lucidez II

Uma das maiores dificuldades depois de um longo relacionamento é a lembrança, ou poderia dizer, o suvenir.
Ele, no dia do término, foi ao dermatologista. Não que isso seja um fuga do assunto. Tratou-se de verrugas, queimadas, muitos sabemos, com água a -20c, ou sei lá. Queimou-se três, duas dentre as quais distribuídas em cada mão. Com elas mal pôde fazer os últimos carinhos.
Não teve, de fato, nosso personagem, uma boa noite. Com frio, com dores de queimaduras e, finalmente, com dores de afeto.
Teve, no dia seguinte, de tratar de suas verrugas; de lembrar o quanto mudou seus tênis; novas músicas; uma foto belíssima que permanecerá no quadro; um perfume; um livro de seu autor preferido, que não pode ser lido de pronto; sonhos cosmopolitas; e-mails aos montes; Ele mesmo. Não, não que Ele se veja como uma "lembrancinha", ou que tenha sido um objeto. A questão é que Ele mesmo tornou-se outro, e esse jamais sumiria por completo. Por isso não poderia fazer muito mais do que aceitar. Como os gregos, simplesmente aceitar. A lembrança não estaria nas coisas, mas nele. Onde quer que fosse.
E lá está ele, com uma dificuldade enorme de tirar os bandeides da perna cabeluda.
Isso dói bastante, meninas.
Vocês sabem...

quarta-feira, julho 12, 2006

Sobre Lucidez I

“Quando não há mais assunto, não há mais relacionamento”. Não conversavam há algum tempo. Não, é claro que conversavam, mas aqueles desagradáveis momentos de silêncios eram cada vez maiores. E, humano que era, Ele sempre pensava na melhora, na fase; protelava, procrastinava o fim sonhando ainda com um uma possibilidade. Mas mesmo sonhando, apercebia da condição “relacionamental”. Não estavam bem.
É claro que poucos poderiam perceber. Somente os dois não seriam pegos realmente de surpresa. Os relacionamentos têm disso; há todo um mundo somente entre duas pessoas, as outras ficam com impressões, como as moradoras da caverna de Platão. Não se podia saber de tudo realmente o que havia entre aquele casal feliz. Não entendam isso como uma ironia completa, não que fossem infelizes, mas eram menos completos e despidos de problemas do que poderia parecer.
E Ele ficou triste, mas sem sofrer tanto. Pensou que era cedo para desgastar, não muito tarde para terminar. Ficou triste porque esperava e queria mais. E teve claro que não poder-se-ia insistir. Só poderia ser pior. Seria melhor sair enquanto se gostavam, enquanto se respeitavam, enquanto poderiam ver a felicidade passada. Agradeceram ao público. Abaixou-se à cortina. Escutaram os aplausos e ficaram felizes de ter sido um maravilhoso espetáculo.

segunda-feira, julho 10, 2006

Se Dane

Eu, eu, eu, Zidane se fudeu! Eu, eu, eu, Zidane se fudeu!
Ou então... Ô, ô, ô Zidane se queimou!! Ou então...
Ou, ou, ou, Zidane zi danou...
fora os trocadilhos infames, foi isso que aconteceu. Com tudo para fechar com chave de ouro sua carreira, Zinedine Zidane (sim, tive de olhar num desses glogs de esporte o nome completo dele) pagou caro por sua perda de controle. E achei que veio bem a calhar, mesmo que Materazzi (tambem pelo site...) seja conhecido por ser um jogador sujo (sim, outra informação colhida no blog da placar, não entendo tanto de futebol assim..!), não se justifica uma agreção. Não é o caso, é claro, de resumir 16 anos de carreira (muito ultil o blog...) numa perda de controle, ele é um grande jogador e não preciso de internet para saber disso. Mas que merda é essa, vamos passar a justificar uma agreção por insultos à família e "apertadinhas nos mamilos"?!?!
De qualquer maneira, torci, de fato, pela Itália. Mesmo porque ganhei uma camisa da italia na minha festa de aniversário sábado (obrigado pelo carinho de todos). E além do mais posso justificar com a conveniência de diminuir a hegemonia do brasil no futebol mundial... "Tudo pela arte".