Se fosse para eu indicar uma trilha sonora para a história baseada em fatos reais acima, eu indicaria, provavelmente, algo como “o melhor do carnaval 2006”, aquela trilha com a melhor do funk e o pior do Axé...., se é que você me entendem... Se não, é o seguinte: ao contrário do funk, o Axé nem sempre prima pela fulgaridade. O funk não, ele prima pela vulgarização do sexo. Tendo como base pelo menos esse funk-pop, para quase inventar um conceito. Esse funk que escutamos nos grandes meios de comunicação de massa.
Não que eu seja necessariamente contra a venda do sexo. Isso eu digo no sentido de não acreditar que suas mulheres (ou homens, não esqueçamos os michês) são “de vida fácil”. Não posso simplesmente achar que os profissionais do sexo são de “pouca vergonha”, de muita opção outra, ou de qualquer falta absoluta de moral, etc.
A questão aqui é outra. É uma cultura de coisificação, que vai muito além das prostitutas de praças e muito aquém das conversas de “pessoas muito mais ilustres”. A cultura de “pegou quantas?”. A cultura da frase de dois amigos meus: “- o sexo pago é o sexo mais barato que existe!”. Sim, é o mais barato se você reduzir um relacionamento sexual a isso, ao gozo, ao orgasmo, à satisfação do desejo e pronto; reduzir os presentes aos namorados, namoradas, companheiros, companheiras, cônjuges e mesmo aqueles parceiros sem tanto compromisso em simples meios ao coito. Transformá-los todos em objetos de satisfação sexual....
E não que eu ache que o sexo só seja possível, necessário, ou desejável de ser praticado sempre com pessoas com quem nos comprometemos e temos um relacionamento. Acho que podemos transar com uma pessoa na noite que a conhecemos e quem sabem nunca mais...!
Entendem? A questão de crítica é aquela de olhar à outra pessoa como um órgão sexual. A coisificação da outra pessoa, o sexo utilitarista, o órgão do outro como um utilitário. O sexo que tenta ignorar a pele, o cheiro, o hálito, o percurso e fixa-se no fim, no gozo, na quantidade. Na pergunta: “E ai, comeu?”.
É a alienação da pessoa que permite o fim da sua liberdade e de sua concepção como pessoa, como indivíduo. É essa coisificação que permite o machismo, a vulgarização, a traição, o destrato, a falta de respeito. Afinal de contas, o outro pode ser simplesmente um órgão sexual, um objeto de trabalho.
O que me impressiona é o adotar da postura pelas mulheres. Como a “menina” de 16, que considerando-se uma coisa, ou seu sexo como uma coisa, se vende. Mas o limite do prazer para a coisificação quem sabe já tinha sido passado. Ou não. Mas sei lá. Deixa a menina, né?! A vida é dela.
E, afinal de contas, se ela já estava dando daquele jeito sem cobrar, porque não cobrar?
Eu não cobraria pelo desejo de não transformar-me em uma coisa. Um objeto. Afinal de contas, embora as piadas de homens o digam, não sou somente um pênis. Mas sou um homem. Ou justamente por não ser somente um pênis, posso dizer que sou isso, um homem.