segunda-feira, novembro 28, 2005

Sambas e o Reparar

Fundamental a tristeza. Ou, antes, o sofrimento de amor. Não pela impossibilidade de fazer samba quando não sofremos. Não faço samba, mas o escuto.
E, para mim, tão somente por escuta-lo é necessário o sofrimento de amor. Quem já o sentiu sabe do que falo, desde que goste de música.
Uma boa parte das músicas (pegaria dúzias de exemplos entre Buarques e Vinícius, Tons e Caetanos) só podem ser realmente apreciadas à luz de um sofrimento de amor. Embora a letra seja a mesma, o que muda é o espírito, já capaz de olhar, e “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara” [Ensaio sobre a Cegueira], e que, ainda o espírito, sofredor, torna-se capaz de escutar, de ler, de identificar-se.
Deve ser esta, propriamente, a palavra. O espírito que identifica na música, no poema, no filme, numa história. Embora seja melhor ser alegre do que triste, isto só é patente por um sofrimento, ainda que a miude; uma perda, ainda que passageira.
E, pela transitoriedade do sofrimento, reparar a estabilidade da poesia!