Bem, tentando escrever; já que estou num quarto terrível de hotel, sem nada pra fazer porque não são todos que sabem viajar a trabalho.
No "Pequeno Tratado das Grandes Virtudes" peguei o que boa parte serve como minha definição de Amor e Paixão blá blá blá".
Nem me recordo tanto mais do livro, que é belo, e tempo demais se passou desde minha última passada d'olhos. E nem sei pra quem emprestei.
De modo geral, minha dimensão [compreensão] do que seja amor e paixão (definições associadas) se diferem do que muitos costumam defender.
Primeiro uma negação absolutamente apropriada: paixão não é doença. Mas um caminho inicial, por onde, no momento de absoluta descoberta, rumamos para determinada coisa [e pessoa], nos assombramos e assustamos: como pode existir algo tão belo. Paixão é o momento da descoberta que nada tem de patológica, mas de que algo no mundo pode ser bom. Na dúvida e momento de confusão posterior, podemos transformar esse sentimento sobre o sabor de algo [como sendo bom] e simplesmente ficarmos felizes de que aquela coisa exista. Paixão e amor não são sentimentos contraditórios, mas quase tendo a acreditar que o amor pelas pessoas não possa existir sem algum momento de paixão. Paixão é [o] algo novo que nos toca, nos faz sentir que uma coisa possa ser boa por simplesmente existir e, em conseqüência, nos faz desejar que este algo exista próximo, que nos exista, pois que é algo que nos trás felicidade.
Doutro plano, paixão é o desejo ardente de se tornar parte daquilo que nos faz sentir apaixonados. Trocamos músicas, letras, livros, ensinamentos, queremos, à mesma hora, que a pessoa exista e que sejamos parte e compartilhamento dessa existência.
"Quais livros você gosta? Quais músicas? Olha no novo que descobri hoje, querido... que bonito este você, que tanto gostaria de ser parte de mim. Justamente por que me identifico. Como é bom olhar para algo e querer ser parcialmente semelhante... Me quero mudar os hábitos que te atraem, querido, e sermos justamente algo mais Uno..."
Paixão é o sentimento de que podemos mudar mesmo sendo retribuídos em um respeito e desejo pelo que já somos.
Mas que não porque sejamos os mesmo, mas que não porque sejamos estáveis e imutáveis, mas que simplesmente, com o dia a dia, nos deixamos de ver em parte e mutáveis, ver o outro em todo e estável, amamos. como que aprendendo a gostar da presença mesmo que ausência do outro. Como que gostando da simples existência de algo, ao lado, existindo. Não precisamos ver necessariamente o que amamos, e não vemos. Gostamos que exista, porque alguém que exista pode ser simplesmente. Tanto porque se conhece [acredita conhecer] os trejeitos, os modos, as estabilidades. E o sentimento vai gostando de uma coisa que já não é exatamente a do outro, mas de uma relação com nós mesmo. Uma identidade "constante", que não necessária para o espanto, para o desejo ardente, para o mais simples deslumbramento do outro para conosco mesmo. "Simplesmente é", é o que é simplesmente sendo não precisa ser admirando a todo momento. Gosto de azeitonas e o meu afastamento para com ela não me diminui a idéia linda de sua existência.
mas a existência muda. E com o tempo nos esquecemos simplesmente qual o calor da descoberta original. Rumamos ao dia a dia e nos esquecemos, pois, um dia, numa chuva, porque o desejo ardente não nos consome mais. É porque, no parar do olhar, não sabemos e identificamos como o objeto amado muda com nosso próprio amor. E, talvez pelo próprio acostumar, acreditamos ter identificado tudo que é a outra coisa. E afinal de contas, [quase] nunca identificamos mais do que uma quimera criada, em nossa própria ilusão entre aquilo que dizemos e escutamos. Entre aquilo que acreditamos dizer e escutar. Entre aquilo que vivemos e acreditamos viver. No construir de nossas ilusões, nos perdemos cada vez mais numa existência própria. E que o tempo só passa pra nós.
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